IMAGENS DAS IMAGENS
É o meu cigarro um típico resumo
da ilusão entre as suas mutações.
De violetas ou rosas o perfume,
e esta é a maior das minhas distrações.
Provo-o, aspiro-o, enganando-me. E, no fumo,
vejo em volutas as evoluções
da fantasia a divagar sem rumo,
dispersa em mil volatizações.
Fulgiu, queimou, viveu, mas de fugida.
E o prazer produzido foi mendaz,
sua consolação dissaborida.
E, finalmente, em cinza se desfaz,
e é como tanta coisa, que há na vida,
uma delícia que não satisfaz.
MARTINS FONTES
"Pensamentos dispersos, embora sistematicamente
ordenados, sobre diversos temas".
Rainer Maria Rilke
"Pergunta se os
seus versos são bons. Pergunta-o a mim, depois de o ter perguntado a outras
pessoas. Manda-os a periódicos, compara-os com outras poesias e inquieta-se
quando suas tentativas são recusadas por um ou outro redator. Pois bem — usando
da licença que me deu de aconselhá-lo — peço-lhe que deixe tudo isso. O senhor
está olhando para fora, e é justamente o que menos deveria fazer neste momento.
Ninguém o pode aconselhar ou ajudar, — ninguém. Não há senão um caminho.
Procure entrar em si mesmo. Investigue o motivo que o manda escrever; examine
se estende suas raízes pelos recantos mais profundos de sua alma; confesse a si
mesmo: morreria, se lhe fosse vedado escrever? Isto acima de tudo: pergunte a
si mesmo na hora mais tranquila de sua noite: 'Sou mesmo forçado a escrever?'
Escave dentro de si uma resposta profunda. Se for afirmativa, se puder
contestar àquela pergunta severa por um forte e simples 'sou', então construa a
sua vida de acordo com esta necessidade."
Rilke, Cartas a um jovem poeta
Nietzsche
"O cristão comum. – Se o cristianismo tivesse
razão em suas teses acerca de um Deus vingador, da pecaminosidade
universal, da predestinação e do perigo de uma danação eterna, seria um
indício de imbecilidade e falta de caráter não se tornar
padre, apóstolo ou eremita e trabalhar, com temor e tremor, unicamente
pela própria salvação; pois seria absurdo perder assim o benefício
eterno, em troca de comodidade temporal. Supondo que se creia realmente
nessas coisas, o cristão comum é uma figura deplorável, um ser que não
sabe contar até três, e que, justamente por sua incapacidade mental, não
mereceria ser punido tão duramente quanto promete o cristianismo."
Nietzsche, Humano, demasiado humano.
Nietzsche, Humano, demasiado humano.
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