"A arte deve antes de tudo e em primeiro lugar embelezar a vida, portanto, fazer com que nós próprios nos tornemos suportáveis e, se possível, agradáveis uns aos outros: com essa tarefa em vista, ela nos modera e nos refreia, cria formas de trato, vincula aos não educados as leis de convivência, de limpeza, de cortesia, de falar, de calar a tempo certo." Nietzsche

Rousseau



"Eu tinha ido passar alguns dias no campo, na casa de uma boa mãe de família que muito cuidava de seus filhos e de sua educação. Certa manhã em que me achava presente às lições do mais velho, seu governante que muito bem o havia instruído acerca da história antiga, voltando à de Alexandre, caiu no caso bem conhecido do médico Filipe, que se pôs em quadro e valia a pena. O governante, homem de mérito, fez sobre a intrepidez de Alexandre várias reflexões que não me agradaram e que eu evitei discutir para não desacreditá-lo no espírito de seu aluno. À mesa, não deixou, segundo o método francês, de fazer com que muito extravagasse o menino. A vivacidade natural à sua idade e a espera de um aplauso fizeram com que dissesse mil tolices, através das quais ocorriam algumas saídas felizes que faziam esquecer o resto. Finalmente ouve a história do médico Filipe. Ele a contou precisamente e com muita graça. Depois do tributo natural de elogios que a mãe exigia e que o filho esperava, comentou-se o que tinha dito. A maioria censurou a temeridade de Alexandre; alguns, a exemplo do governante, admiravam sua firmeza, sua coragem; o que me induziu a compreender que nenhum dos presentes via em que consistia a verdadeira beleza do gesto. Para mim, disse, parece que não há nisso a menor coragem, a menor firmeza na ação de Alexandre. Não passa de uma extravagância. Então todo mundo se juntou e conveio em que era uma extravagância. Eu ia responder e me exaltar, quando uma mulher que estava ao meu lado e não tinha aberto a boca, se voltou para mim e disse bem baixo ao ouvido: Cala-te Jean- Jacques, eles não te compreenderão. Olhei-a, impressionei-me e me calei."
ROUSSEAU. Emilio; ou, Da educação, págs 101 e 102