"A arte deve antes de tudo e em primeiro lugar embelezar a vida, portanto, fazer com que nós próprios nos tornemos suportáveis e, se possível, agradáveis uns aos outros: com essa tarefa em vista, ela nos modera e nos refreia, cria formas de trato, vincula aos não educados as leis de convivência, de limpeza, de cortesia, de falar, de calar a tempo certo." Nietzsche

Henry Mencken


O SUPREMO PALHAÇO DA CRIAÇÃO

A velha noção antropomórfica de que todo o universo se centraliza no homem – de que a existência humana é a suprema expressão do processo cósmico – parece galopar alegremente para o baú das ilusões perdidas. O fato é que a vida do homem, quanto mais estudada à luz da biologia geral, parece cada vez mais vazia de significado. O que no passado deu a impressão de ser a principal preocupação e obra-prima dos deuses, a espécie humana começa agora a apresentar o aspecto de um subproduto acidental das maquinações vastas, inescrutáveis e provavelmente sem sentido desses mesmos deuses.

(...) O que não quer dizer, naturalmente, que um dia a tal teoria seja abandonada pela grande maioria dos homens. Pelo contrário, estes a abraçarão à medida que ela se tornar cada vez mais duvidosa. De fato, hoje, a teoria antropomórfica ainda é mais adotada do que nas eras de obscurantismo, quando a doutrina de que um homem era um quase Deus foi no mínimo aperfeiçoada pela doutrina de que as mulheres inferiores. O que mais está por trás da caridade, da filantropia, do pacifismo, da “inspiração” e do resto dos atuais sentimentalismos? Uma por uma, todas estas tolices são baseadas na noção de que o homem é um animal glorioso e indescritível, e que sua contínua existência no mundo deve ser facilitada e assegurada. Mas esta ideia é obviamente uma estupidez.
No que se refere aos animais, o mesmo num espaço tão limitado como o nosso mundo, o homem é tosco e ridículo. Poucos bichos são tão estúpidos ou covardes quanto o homem. O mais rafeiro dos cães tem sentidos mais agudos e é infinitamente mais corajoso, para não dizer mais honesto e confiável. As formigas e abelhas são, de várias formas, mais inteligentes e engenhosas; gerem os seus sistemas de governo com muito menos confusões, desperdícios e imbecilidades. O leão é mais bonito, digno e majestoso. O antílope é infinitamente mais rápido e gracioso. Qualquer gato doméstico comum é mais limpo. O cavalo, mesmo suado do trabalho, cheira melhor. O gorila é mais gentil com os seus filhos e mais fiel à companheira. O boi e o asno são mais produtivos e serenos. Mas, acima de tudo, o homem é deficiente em coragem, talvez a mais nobre de todas as qualidades. O seu pavor mortal não se limita a todos os animais do seu próprio peso ou mesmo da metade do seu peso - exceto uns poucos que ele degradou por cruzamentos artificiais -, o seu pavor mortal é também daqueles da sua própria espécie – e não apenas dos seus punhos e pés, mas até dos seus risos.
Nenhum outro animal é tão incompetente para se adaptar ao seu próprio ambiente. A criança, quando vem ao mundo, é tão frágil que, se for deixada sozinha por aí durante alguns dias, infalivelmente morrerá, e essa enfermidade congênita, embora mais ou menos disfarçada depois, continuará até a morte. O homem adoece mais do que qualquer outro animal, tanto no seu estado selvagem quanto abrigado pela civilização. Sofre de uma variedade maior de doenças e com maior frequência. Cansa-se ou fere-se com mais facilidade. Finalmente, morre de forma horrível e geralmente mais cedo. Praticamente todos os outros vertebrados superiores, pelo menos no seu ambiente selvagem, vivem e retêm as suas faculdades por muito mais tempo. Mesmo os macacos antropoides estão bem à frente dos seus primos humanos. Um orangotango casa-se aos sete ou oito anos de idade, constrói uma família de setenta ou oitenta filhos, e continua tão vigoroso e sadio aos oitenta quanto um europeu de 45 anos.

Todos os erros e incompetências do Criador chegaram ao seu clímax no homem. Como peça de um mecanismo, o homem é o pior de todos; comparados com ele, até um salmão ou um pássaro são máquinas sólidas e eficientes. O homem transporta os piores rins conhecidos da zoologia comparativa, os piores pulmões e o pior coração. Os seus olhos, considerando-se o trabalho a que são obrigados a desempenhar, são menos eficientes do que o olho de uma minhoca; o Criador de tal aparato ótico, capaz de fabricar um instrumento tão tosco, deveria ser surrado pelos seus fregueses. Ao contrário de todos os animais, terrestres, celestes ou marinhos, o homem é incapaz, por natureza, de deixar o mundo em que habita. Precisa de se vestir, proteger e armar-se para sobreviver. Está eternamente na posição de uma tartaruga que nasceu sem o casco, um cão sem pêlos ou um peixe sem barbatanas. Sem a sua pesada e desajeitada carapaça, torna-se indefeso até contra as moscas. E Deus não lhe concedeu nem um rabo para espantá-las.

Vou chegar agora a um ponto de inquestionável superioridade natural do homem: ele tem alma. É isto que o separa de todos os outros animais e o torna, de certa maneira, senhor deles. A exata natureza de tal alma vem sendo discutida há milhares de anos, mas é possível falar com autoridades a respeito de sua função. A qual seria a de fazer o homem entrar em contacto direto com Deus, torná-lo consciente de Deus e, principalmente, torná-lo parecido com Deus. Bem, considere-se o colossal fracasso desta tentativa. Se presumirmos que o homem realmente se parece com Deus, somos levados à inevitável conclusão de que Deus é um cobarde, um idiota e um patife. E, se presumirmos que o homem, depois de todos esses anos, não se parece com Deus, então fica claro imediatamente que a alma é uma máquina tão ineficiente quanto o fígado ou as amígdalas, e que o homem poderia passar sem ela, assim como o chimpanzé, indubitavelmente, passa muito bem sem alma. Pois é este o caso. O único efeito prático de se ter uma alma é que ela infla no homem vaidades antropomórficas e antropocêntricas – em suma, com superstições arrogantes e presunçosas. Ele se empertiga e se empluma só porque tem alma – e subestima o fato de que ela não funciona. Assim, ele é o supremo palhaço da criação, o reductio ad absurdum da natureza animada.

Não passa de uma vaca que acredita dar um pulo à Lua e organiza toda a sua vida sobre esta teoria. É como um sapo que se gaba de combater contra leões, voar sobre o Matterhorn ou atravessar o Helesponto. No entanto, é esta pobre besta que somos obrigados a venerar como uma pedra preciosa na testa do cosmos. É o verme que somos convidados a defender como o favorito de Deus na Terra, com todos os seus milhões de quadrúpedes muito mais bravos, nobres e decentes – os seus soberbos leões, os seus ágeis e galantes leopardos, os seus imperiais elefantes, os seus fiéis cães, os seus corajosos ratos. O homem é o inseto a que nos imploram, depois de infinitos problemas, trabalho e despesas, a reproduzir.
Henry Mencken,  'O Livro dos Insultos (1919)'

Victor Hugo


Jorge Cooper


Jean Cocteau


Walter Benjamim



CITAÇÂO SALVA A PALAVRA:

"Como a tradução, a citação desorganiza, translada e reorganiza, e com isso, salva a palavra.Quanto mais de perto se olha uma palavra, mais fundo ela recua, para devolver o olhar. Citar uma palavra significa chamá-la pelo nome. Na citação punidora e salvadora a linguagem se revela como a mãe da justiça. Ela chama a palavra pelo seu nome , arranca-a, destrutivamente, do seu contexto, mas com isso a chama de volta à origem. Através da citação, ramificam-se, a partir da linguagem, as duas esferas - a da origem e a da destruição. Inversamente, somente quando elas se interpenetram - na citação - a linguagem está completa. É o que se reflete na linguagem dos anjos, em que todas as palavras, desentranhadas do contexto idílico da significação, transformam-se em epígrafes no livro da Criação".

Ovídio


Heny Miller


Jean de La Bruyère


Harold Pinter


T.S.Eliot



Certa vez em uma festa uma mulher perguntou a T.S.Eliot se ele não achava aquela reunião extremamente interessante. O poeta respondeu: "Sim, claro, principalmente se você observar o horror essencial da coisa toda"

Graham Greene


Thoureau


Hermann Hesse


Salvador Dali


Sartre


João Cabral de Melo Neto



"A poesia é a linguagem para a sensibilidade. E a prosa é uma linguagem pra razão. São duas maneiras muito categóricas de ver a coisa porque existe uma prosa como a do James Joyce - é uma prosa que é poesia também - e existe uma poesia como a do Carlos Drummond - é uma poesia que também é prosa, Poesia e prosa são dois extremos mas exatamente o poeta e o prosador muitas vezes ganham de jogar em dois lados. O que acontece com muitos poetas é que eles escrevem os poemas e depois poetizam o poema. Eu tenho a impressão de que a poesia é uma forma de expressão diferente da prosa e não é preciso poetizar o poema. O poema bom, o poema verdadeiro já é poético não precisa fazer poético. A poesia é... nós estivemos falando de corrida de touros ... aquele meu poema sobre Manolete termina assim sem perfumar sua flor, sem poetizar seu poema"
João Cabral de Melo Neto

Marcos Ribeiro Ecce Ars


Mário Quintana


Stephen Hawking


Charles Chaplin


Thoreau


Thoreau


Hannah Arendt

"O chamado 'tempo livre' neste modo de vida jamais é gasto em outra coisa senão em consumir; e quanto maior é o tempo de que se dispõe, mais ávidos e insaciáveis são os apetites. O fato de que estes apetites se tornam mais refinados, de modo que o consumo já não se restringe às necessidades da vida, mas ao contrário visa principalmente as superfluidades da vida, não altera o caráter desta sociedade; acarreta o grave perigo de que chegará o momento em que nenhum objeto do mundo estará a salvo do consumo e da aniquilação através do consumo."
Hannah Arendt, A condição humana.