"A arte deve antes de tudo e em primeiro lugar embelezar a vida, portanto, fazer com que nós próprios nos tornemos suportáveis e, se possível, agradáveis uns aos outros: com essa tarefa em vista, ela nos modera e nos refreia, cria formas de trato, vincula aos não educados as leis de convivência, de limpeza, de cortesia, de falar, de calar a tempo certo." Nietzsche

Bertrand Russell




"Digamos, para dar um exemplo, que os pais de um jovem tenham para si que a teoria da evolução é abominável. Em um caso como esse, só é preciso a inteligência para entrar em desacordo com eles. Não estar em harmonia com o próprio ambiente é uma desgraça, concordo, mas não é sempre que uma desgraça precisa ser evitada a todo custo. Quando o ambiente é estúpido, cheio de preconceitos ou cruel, não estarmos em harmonia com ele é um mérito."
Bertrand Russell em A Conquista da Felicidade

Umberto Eco


Sócrates


Na gravura, Xantipa, esposa de Sócrates, despeja água suja no ateniense que, armado com paciência responde: "Não há dúvida de que, após o trovão veio a chuva".

Erasmo de Rotterdam


São necessários homens altos e robustos que reflitam pouco e avancem. Por acaso, haver-se- ia de preferir esse Demóstenes soldado que, seguindo os sábios conselhos de Arquíloco*, jogou para longe seu escudo para dar-se à fuga, logo que percebeu a presença do inimigo? Era tão negligente no combate quanto sábio na tribuna.
[...] A nobre guerra é feita por parasitas, alcoviteiros, ladrões, sicários, boçais, imbecis, devedores, insolventes, em resumo, pelo refugo da sociedade e, de modo algum, por filósofos que velam a luz da lamparina.

*Os espartanos baniram Arquíloco por haver confessado e se gabado de ter largado o escudo para fugir com maior destreza e mais depressa. O orador Demóstenes teria feito o mesmo em outra batalha. 
 
Citado em Elogio da Loucura de Erasmo de Rotterdam

Mário Quintana


Mário Quintana

                                   

Novalis


Luciano de Samosata


Trecho de Os Fugitivos

"Zeus - Ainda não me disseste, ó Filosofia, as ofensas que sofreste, mas apenas te lamentaste.
A Filosofia - Ouve, ó Zeus, quais são. Uma raça de vagabundos, na maioria servos e mercadores, que não viveram comigo desde crianças por causa das suas ocupações[...]
O vulgo que vê isso despreza a filosofia, crê que todos são da mesma laia, e acusam a mim, que dou bons preceitos. Por isso tem-me sido impossível há muito tempo atrair alguém a mim, e me acontece como a Penélope, que tudo o que teci, num momento se desfaz: e a Ignorância e a Injustiça riem de mim, vendo que faço uma obra que nunca se realiza, e uma fadiga inútil."

Luciano de Samosata

Eugen Herrigel

A ARTE CAVALHEIRESCA DO ARQUEIRO ZEN  

"Só encontrará a sua vida aquele que a perdeu"
(Provérbio Zen)

Certo dia, o mestre e eu, diante de uma taça de chá. A ocasião me pareceu propícia para um diálogo profundo. Abri meu coração: “Compreendo muito bem que a mão não deve abrir-se bruscamente no ato do disparo, mas, faça o que fizer, sempre me saio mal. Se fecho a mão com todas as minhas forças, o golpe ao abri-la é inevitável. Por outro lado, se me esforço para deixá-la relaxada, a corda me escapa antes de estar estirada completamente, antes de eu estar pronto para atirar. Oscilo entre esses extremos do fracasso e não encontro solução.”
“É preciso manter a corda esticada”, explicou o mestre, “como a criança que segura o dedo de alguém. Ela o retém com tanta firmeza que é de admirar a força contida naquele pequeno punho. Ao soltar o dedo, ela o faz sem a menor sacudidela. Sabe por quê? Porque a criança não pensa: “agora vou soltar o dedo para pegar outra coisa”. Sem refletir, sem intenção nenhuma, volta-se de um objeto para outro, e dir-se-ia que joga com eles, se não fosse igualmente correto que são os objetos que jogam com a criança.” “Compreendo o que o senhor quer dizer com essa comparação, mas não me encontro numa situação diferente? Quando estou com o arco estirado, chega um momento em que sinto que, se não disparar imediatamente, não resistirei mais à tensão. O que sucede, então? Fico sem poder respirar. E sou eu quem deve dispará-lo a todo custo, porque não consigo esperar mais.” “O senhor acaba de descrever com perfeição qual é sua dificuldade. Sabe por que não pode esperar pelo momento exato do disparo e por que perde a respiração? O tiro justo no momento justo não ocorre porque o senhor não sabe desprender-se de si mesmo, um acontecimento que deveria ocorrer de maneira independente, pois, enquanto não suceder, a mão não se abrirá de maneira adequada, como a da criança.” Tive de admitir diante do mestre que essa interpretação me confundia ainda mais: “Pois sou eu quem estira o arco e sou eu quem o dispara em direção do alvo. Estirar o arco é, pois, um meio para um fim, e essa relação não pode ser perdida de vista. A criança, contudo, não a conhece e eu, obviamente, não posso descartá-la.” “A arte genuína”, afirmou o mestre, “não conhece nem fim nem intenção. Quanto mais obstinadamente o senhor se empenhar em aprender a disparar a flecha para acertar o alvo, não conseguirá nem o primeiro e muito menos o segundo intento. O que obstrui o caminho é a vontade demasiadamente ativa. O senhor pensa que o que não for feito pelo senhor mesmo não dará resultado.” “Mas o senhor mesmo me disse muitas vezes que a arte do arqueiro não é um passatempo, um jogo carente de finalidade, mas uma questão de vida ou morte.” “Eu não me desminto. Nós, os mestres-arqueiros, dizemos: um tiro, uma vida! Talvez lhe seja difícil compreender isso, mas posso ajudá-lo com outra imagem que expressa a mesma vivência. Nós dizemos que com a extremidade superior do arco o arqueiro trespassa o céu; na inferior está suspensa, por um fio de seda, a terra. Se o tiro for disparado com violência, existe o perigo de que o fio se rompa. Para o voluntarioso e agressivo, o abismo será, então, definitivo, e ele permanecerá no centro fatal, entre o céu e a terra, sem jamais vir a conhecer a salvação.”
 “Então, o que devo fazer?”
“Tem que aprender a esperar.”
“Como se aprende a esperar?”
“Desprendendo-se de si mesmo, deixando para trás tudo o que tem e o que é, de maneira que do senhor nada restará, a não ser a tensão sem nenhuma intenção.”
“Quer dizer que devo, intencionalmente, perder a intenção?”
“Confesso-lhe que jamais um aluno me fez tal pergunta, de maneira que não sei respondê-la de imediato.”
“Quando começaremos com novos exercícios?”
“Espere até que chegue o momento.”

Oscar Wilde


Oscar Wilde


Nietzsche


Salvador Dali


Guilherme de Ockham